segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Procurando espaço-tempo

 [essa postagem é uma cópia do texto que publiquei ontem no substack. porque reaprendi a fazer um blog]

No prefácio de Os condenados da Terra, obra cânone da Frantz Fanon, Sartre nos escreve que não nos tornamos o que somos senão pela negação íntima e radical do que fizeram de nós.

Há algum tempo eu venho pensando sobre os agenciamentos e produções de subjetividade no instagram. Principalmente, porque eu sinto que preciso que preciso falar e escrever mais - porque eu me sinto bastante sozinha morando no exterior e tenho construído relações bastante sólidas à distância, que são mediadas, basicamente, pela escrita. No instagram, por mais que eu sinta que dá pra escrever, nunca é o suficiente pra dizer o que eu quero dizer - e isso vem me agoniando. Esse agenciamento de se expressar poucos por palavras e muito por imagens. Será que eu não sou aesthetics o suficiente? Sinceramente, penso que pode ser.

Talvez fosse mais fácil dizer o que eu quero dizer se eu soubesse exatamente o que é isso. Cenário ideal. Mas eu geralmente não sei - mas me encontro em um gigantesco balaio de inquietações.

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Recentemente eu criei uma conta no blogspot, mas deletei acidentalmente. Juro. 2023 e eu acidentalmente deletei um conta. Queria usar o blogspot pra poder manter o template antigo, aquele lá do início dos anos 2000. Eu não sei que tipo de saudosismo é esse, mas talvez essa fosse a minha memória mais vívida de um tempo em que dava pra escrever muito e receber comentários grandes. Eu tive alguns blogs na vida, mas eu era bastante jovem quando eles tavam no ~auge. Sonhava em ser adulta e ter um blog, com muita coisa pra escrever. Agora sou muito adulta e só faço stories sem palavras, olha só.

A minha época mais feliz na internet foi no Tumblr, meu “eu verdadeiro” [2008-2015]. Essa conta ainda tá ativa, anualmente eu volto lá mas não me encontro mais ali. Porém, não me permito sentir cringe dessa minha época. Já sofria tanto naqueles anos, não vou aceitar sofrer reatroativo por quem eu era no passado, socorro. Não, pára. Mas voltar pra lá também é sacanagem.

Na carta que o Kafka para sua noiva Felice Bauer, em 1912, ele diz:

“I am forever chained to myself; that’s what I am, and that’s what I must try to live with.”

Então, nesse sentimento de saudosismo, nostalgia, solidão, vontade de escrever e de me comunicar em textos grandes, eu achei essa plataforma, substack. Não sei operá-la ao certo, mas penso ser tech-savy o suficiente pra me virar.

Se eu fosse escrever esse textinho em stories, seria o suficiente pro meu melhor amigo me perguntar se eu enlouqueci. E eu soltar os cachorros nele, porque eu só queria escrever.

Naturalmente, eu não tenho audiência e plataforma pra difundir nada do que eu escrevo. I’m just a girl! Mas também não quero deixar de escrever. A não ser que seja a minha tese. Essa eu quero muito deixar de escrever! Faltam 8 dias!

O meu objetivo com tudo isso é ir saindo aos pouquinhos do instagram, mas me manter suficientemente ativa ~online. Eu sou uma pessoa tragicamente online há muitos anos. Hoje em dia uso muito o reddit e o instagram, mas esse segundo tá me deixando meio pertubada. Só que eu gosto muito de acompanhar o que os meus amigos andam fazendo, porque 50% de mim é só saudade, de muita gente. Me agarro naquele sentimento de que a internet nos torna mais próximos, tal qual um encarte de cd com provedor de internet discada do AOL nos anos 2000.

Quando eu concluir meu objetivo de não usar mais o instagram, eu também não quero virar apenas uma ideia pros meus amigos - mas quero estar a um clique de distância!! Com textos gigantescos sobre a minha vida no substack! É possível manter-se sabendo sobre mim. Inclusive, é a primeira rede aberta que eu terei - visto que eu era completamente anônima no tumblr. Nunca deixei o instagram, facebook ou twitter públicos. Agora aqui vai estar. Por isso, sem fotos da criança. Sem fotos do marido. Mas vou atualizar a minha aparência se eu tiver drásticas mudanças de visual. Porém, eu ainda devo usar o instagram um tempão, principalmente, porque a minha amiga L. me manda muitos memes e eu, genuinamente, rio muito. Sério. É uma inesgotável fonte de risadas. Então, apesar de querer sair daquela rede social, não ando consumindo humor em lugar nenhum. O que é uma desgraça.

Ando com bastante nostalgia pensando em possíveis cenários de como teria sido a minha vida se eu nunca tivesse saído de Manaus. Teria sido bom ter raízes mais sólidas? E se eu nunca tivesse saído de Porto Alegre? Teria sido bom morar em um lugar muitos anos? E se eu nunca tivesse saído de Campinas? Teria sido bom reconstruir a vida naquela cidade? E se eu nunca tivesse saído do Brasil? Porra, teria sido excelente ou não? Independente dos adjetivos que eu posssa escrever pra esses lugares, todos me apresentaram pessoas muito especiais pra mim. E eu sinto muita falta. Tenho 3 grandes amigas no país que eu moro agora, mas elas me conheceram em uma versão muito mais organizada e centrada de mim mesma. Caramba, já pensou achar que eu sempre fui casada? Que eu sempre vivi confortavelmente? Que eu me considero ~ótima de saúde mental?

Às vezes eu olho no espelho e nem reconheço essa pessoa aí toda direitinha. Recentemente eu li The bell jar da Sylvia Plath, o que foi uma experiência bastante angustiante, ainda que interessante. Me deixou pensando no que eu vou fazer com a minha vida após o doutorado. Muitas expectativas envolvidas: algumas são minhas, algumas são de outras pessoas. Eu não faço a menor ideia do que eu vou fazer. Só sei que vamos mudar de país, de novo, e eu posso fazer o que eu quiser. Simplesmente isso. Posso começar outra faculdade (socorro), procurar um novo emprego (meh), fazer um curso de idiomas (hmmm ok), descansar de verdade (ótimo), ter um hobby que demanda muito tempo (hmm), ler todos os livros que eu quiser. Tudo isso é ótimo. Mas tudo isso tem me causado angústia, são muitas opções. Tenho zero motivos pra me sentir agoniada, mas achei um, que é ter boas opções demais na vida.

Seria esse o momento da vida que agradeço que deu tudo certo? Ou ainda é cedo demais? De todo modo, procuro conforto nesse espaço-tempo que eu vivo.